A traição é conceituada como uma “ruptura de pacto”, abandono, infidelidade. Desde as antigas civilizações existe a traição, mas o entendimento do que seria trair pode variar consideravelmente. Beijar, fazer sexo, desenvolver apego, se enamorar… Ainda hoje, em alguns países ou mesmo aqui, existe uma espécie de aceitação velada da traição masculina. Muitas sociedades tratam o assunto como um processo quase natural, naquela base de “todo homem trai”. Porém, esta postura resignada não é considerada normal por mulheres que tem seu trabalho, que zelam por suas relações e que se respeitam acima de tudo.
Não existe sombra de dúvida que a dor de ser traído é mortal. Alguns pacientes relatam como uma faca que corta a alma, outros, como um ácido que corrói o vínculo ou ainda como a sensação de morte do ideal de felicidade construído durante toda a vida.
Perdoar uma traição é como isentar o outro da pena, absolver do castigo, tornar puro o pecador. Não é fácil decidir entre perdoar ou não perdoar porque diversas estruturas mentais e emocionais começam a se degladiar dentro da pessoa. O orgulho, a autoestima, a mágoa, a desilusão, o medo, a humilhação.
O perdão pode ser visto em duas vertentes: esquecer ou aceitar. O esquecer normalmente está apoiado em uma crença religiosa de “dar a outra face” ou no velho ditado: “errar é humano, perdoar é divino”.
O aceitar significa conviver com uma verdade em que se terá que refazer contratos e pactos.
Que se realinhem os caminhos e projetos a dois. A pessoa que aceita não esquece mas prefere não se martirizar pois, de alguma forma, ainda aposta na relação. Aceitação não tem relação com esquecimento. Neste momento muitos casais buscam a psicoterapia de casal para reestabeleci- mento da saúde da relação.
Com o tempo, a mágoa e as feridas perdem sua intensidade e torna-se possível conviver novamente de forma mais leve.
Muitas pessoas acreditam que a traição é imperdoável porém é fato que muitas vezes ela é um sinal de alerta de que muitas outras coisas não estavam bem e, olhar para todas essas coisas, ajuda para que a relação se reconstrua de forma mais sólida e feliz.
Não se trata, de modo algum, de fazer apologia da traição. Não há pretextos para a deslealdade. Apenas cabe aqui uma reflexão e não apenas uma condenação. A relação amorosa é uma entidade viva e mutante que muitos casais imaginam que sobrevive espontaneamente, sem dedicação, sem investimento. A traição faz os olhos se voltarem para esta “entidade” adoecida de forma mais profunda e sincera. Olhando para a doença, é possível buscar o “remédio”. É certo que algumas vezes é tarde demais e não há o que fazer, restando uma separação digna e respeitosa, mas também é certo que muitas vezes, depois de toda a dor, nasce uma nova relação, mais verdadeira e feliz.
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